Depois de ler imensas coisas sobre a preparação do Caminho de Santiago, de o ter percorrido, ter cometido alguns disparates e ter acertado algumas vezes também, deixo aqui compiladas todas as lições que aprendi pelo caminho e algumas dicas práticas (alojamentos, onde comer e o que fazer) para vos ajudar na organização do vosso.
Como organizar as etapas?
Aqui está uma dúvida existencial, como organizar as etapas em termos de quilómetros percorridos por dia, horas de caminhada, tempos de paragem.
Nós caminhamos entre Valença e Santiago, cerca de 120 km, em cinco etapas, o que daria uns confortáveis 24 km por dia. Só que a distribuição de povoações pelo caminho não é bem essa o que complica a logística de alojamentos. Acabamos a ter de fazer uma etapa inicial de 32 km o que foi um erro – principalmente porque na segunda metade está o troço mais difícil do percurso, a descida de Mos para Redondela. O ideal é que consigam seis dias (e não cinco) para caminhar. desta forma podem fazer uma paragem a meio do caminho em Porriño, apesar de parecerem muito poucos quilómetros para os dois primeiros dias (e são), as vossas pernas vão agradecer depois.
O conselho óbvio é que saiam sempre de manhã cedo para conseguirem almoçar já no destino final, ter a tarde inteira de descanso (juntamente com uma noite bem dormida) é fundamental para recuperar para o dia seguinte. E a hipótese de também aproveitarem um pouco o dia para conhecer os locais onde vão passando e aproveitar a parte gastronómica da viagem.
Por último, mas não menos importante no planeamento, parem sempre a cada 5/6 km de caminhada, 1h30 no máximo. intercalem umas paragens mais curtas para beber água, desapertar as sapatilhas e comer um snack com outras um pouco mais longas numa esplanada para descansar meia-hora, comer e beber, ir à casa de banho.
Sugestão de alojamentos no Caminho Português
A Peregrinação mais tradicional pelo Caminho de Santiago envolve ficar alojado nos albergues públicos que se situam ao longo do caminho. Há imensos e os preços são simbólicos, menos de 10 euros por noite com direito a cama e duche em camarata/balneário partilhado. O maior senão desta opção é que não são permitidas reservas, os albergues vão enchendo por ordem de chegada o que faz com que grande parte dos peregrinos tenham de sair de madrugada para conseguir chegar cedo ao ponto seguinte e conseguir um “bom lugar”.
Mas tudo tem solução, e com a massificação do turismo ligado ao caminho, imensas opções de alojamentos e albergues privados começaram a surgir. Foi a nossa opção, pelo conforto de poder estar tranquilo com a reserva já efetuada e sem pressas de chegar e também pela possibilidade de reservar quartos privados com casa de banho não-partilhada. Há opções para todos os bolsos e conseguem este bocadinho extra de conforto (importante para terem uma noite descansada) em média por 25 euros por pessoa/noite.
Todos os alojamentos listados abaixos foram marcados por mim através do Booking.com e não nos desiludiram. Foram boas opções que recomendo, podem reservar através dos links abaixo:
(Mini hostel, com apenas 3/4 quartos, incluindo o nosso quadruplo privado com wc. Muito bem situado, mesmo à face do caminho. Tudo era bem pequenino, mas limpinho e cómodo, disponibilizava ainda uma mini-cozinha com chás/cafés e bolachinhas para um pequeno-almoço rápido)
Pontevedra – Duplex Casco Histórico
(Apartamento de três quatros mesmo no centro da cidade, super cómodo, com tudo o necessário e uma localização perfeita para sair à noite para jantar e beber um copo, não tão perfeita para dormir porque em noites mais agitadas a movida está demasiado próxima)
Caldas de Reis – Balneário Acuña
(Foi o alojamento mais caro da viagem, o espaço é muito maior e as condições são outras, é um hotel, com quartos duplos privados, num edifício histórico no centro da cidade. Pequeno-almoço buffet com variedade de opções e o motivo que nos levou até lá: as águas termais e os tratamentos do Spa. Com piscina interna e externa termal e uma série de tratamentos termais disponíveis, foi uma ótima opção para descansar. As condições do hotel infelizmente não são as melhores, o edifício precisava de uma remodelação enorme, já está muito antigo e a intervenção era importante, nota-se um pouco a “decadência” dos espaços. Principalmente porque não tem preços de albergue e quem procura estes espaços está à espera de encontrar outra coisa. Mas valeu muito só pelas águas termais.)
Padron – Albergue con Encanto D’Camiño
(Muito bem situado no centro da cidade, alojamento pequenino com vaga para apenas dez pessoas, apenas quatro delas em quatro privado. Uma pequena cozinha e zona de refeições bem apetrechada. Preço muito acessível, uma boa paragem para descansar)
Santiago – Albergue The Last Stamp
(Perto da Praça Cervantes, atrás da Catedral e da Praça do Obradoiro. Só usamos mesmo para dormir mas o quarto quadrúplo era amplo e a casa de banho ótima para partilhar. Tem elevador o que é um plus importante depois de 120 km nas pernas. E recepção 24/24)
Onde comer?
Redondela – 78 Gastrobar
Estavamos exaustas neste dia, e só queríamos comer qualquer coisa e ir dormir. O Gatrobar78 foi o escolhido porque ficava a 20 metros mas correu mesmo bem a escolha, comi uma sandes de chipirones maravilhosa, só de me lembrar volta a crescer água na boca.
Pontevedra – Savoy Restobar; La Quesera; O Bioco
Pontevedra é uma ótima opção para ir de cañas e tapas, aproveitamos bem esta tarde/noite para saltitar de bar em bar e ir provando as especialidades da região. Tenho três locais a destacar: o Savoy mesmo na praça principal onde comi um polvo bueníssimo, numa proposta meio alternativa que incluía noodles e sabores exóticos; La Quesera, porque umas tábuas de queijos e enchidos com uma garrafa de Ribeiro vão sempre bem e o ambiente era super giro; e por fim o Bioco, com umas ostras selvagens de comer e chorar por mais.
Caldas de Reis – O Muiño
Chegamos aqui por recomendação e não nos arrependemos. As entradas estavam ótimas, navalhas, pulpo à galega e chocos com tinta e o Chuletón (carro chefe da casa) era ótimo. Para ficar durante umas horas, a desfrutar da comida e da localização, mesmo por baixo da ponte no centro de Caldas, com vista para o rio.
Padron – Pulperia Rial; O Alpendre; Don Pepe
Acertamos na mouche com a comida em Padron, meio ao acaso fomos parar à Pulperia Rial onde atacamos os primeiros pimentos da temporada e claro o polvo. De assinalar as croquetas (de pulpo, pois claro), de comer e chorar por mais. Ao jantar fomos até ao Alpendre, umas zamburiñas de entrada maravilhosas e uma paella incrível. Podemos lá voltar? Não podem sair de Padron no dia seguinte de manhã sem o pequeno-almoço e o abraço (kkkk) de Don Pepe, o bar mais famoso da cidade, um verdadeiro museu.
Santiago – Pulperia O Piorno; El Patio
A nossa recomendação em Santiago estava fechada, tivemos que escolher meio à toa, e opções não faltam na cidade. Acabamos a almoçar no Piorno e foi uma ótima opção e a beber unas copas no simpático jardim/esplanada do Patio. Tudo na rua principal que sai da praça do Obradoiro.
Logística e equipamento necessário
Esta é uma questão muito importante também, para que possam aproveitar ao máximo o desafio de completar o Caminho de Santiago, é importante que estejam sempre confortáveis (dentro do possível para quem está a fazer 120 km a pé). Desta forma decidimos logo de início que não íamos carregar as nossas malas durante o caminho, caminhamos apenas com uma pequena mochila para o dia e contratamos um serviço de transporte de malas. Foi super eficiente, o Joti levou-nos as malas de hotel em hotel e estavam sempre à nossa espera à chegada, sem atrasos nem problemas. Foi bastante prestável e disponibilizou-se para ajudar com o que nos fizesse falta – “se precisarem de alguma coisa, liguem que eu ando sempre por aqui!”, no final ainda nos trouxe de regresso a casa. Entrem em contacto com ele, pode ajudar-vos a organizar a vossa viagem de forma cómoda.
(+) JotiMalas
Por falar em conforto, a minha maior dúvida foi, o que colocar na mala. Acho que não usei metade das coisas que levei mas tenho a destacar três coisas que fizeram toda a diferença na minha caminhada:
– Sapatilhas de caminhada impermeáveis da Decathlon, cheguei ao fim sem uma única bolha o que já considero um sucesso. boa sustentação do pé e impermeáveis (choveu um pouco e apanhamos zonas de lama. Foi uma belíssima opção.
– um impermeável bom, bonito e barato, escolhi este da Decathlon, era giro e cumpriu bem a função quando apanhamos chuva. dobrado não ocupa espaço nenhum.
– bolsa de tiracolo, é fundamental, não só para distribuir um pouco o peso mas porque é muito incómodo estar sempre a ir à mochila, para tirar dinheiro, a credencial para carimbar ou o protetor solar.
Os três items podem ser adquiridos na Decathlon através dos links que vos deixo.
Para além disso, e dependendo do tempo, roupa de treino normal, meias sem costuras (muito importante) e um chapéu!
A mochila para o dia mantém as mesmas dicas:
– água e snacks
– protetor solar e chapéu
– credencial, concha e guia do caminho
– carteira/identificação/dinheiro
– papel higiénico
– vaselina, meias suplentes e adesivo castanho
Espero que as dicas vos sejam úteis para organizar a vossa própria jornada no Caminho de Santiago. Alguma dúvida, entrem em contacto 🙂
(+) O meu caminho de Santiago | Relato e fotografias
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