O relato na primeira pessoa. Algumas das centenas de fotografias que tirei. Os estados de alma e o cansaço na pernas. Os momentos de diversão, de descanso e de caminhada dura. As cinco etapas do meu Caminho de Santiago, entre Valença e Santiago de Compostela.
Consegui parar pela primeira vez para escrever sobre o caminho com quatro jornadas de atraso. E o relato ficou curto. A intensão inicial era escrever ao longo do percurso mas não consegui. termino com vários dias de atraso, mas a memória ainda fresca.
Etapa Valença-Redondela
O desafio inicial foi bem maior e mais duro que o previsto. A etapa Valença-Redondela é brutal para o corpo, ou pelo menos para o meu corpo pouco preparado para este esforço.
O percurso começou de manhã não muito cedo em Valença. Cruzamos a ponte, o rio e a fronteira até Tui que vi com um olhar diferente do de todas as visitas anteriores. Apesar da passagem comum na Catedral, o caminho percorre recantos que desconhecia e onde nunca tinha estado. Saímos da cidade por uma zna verde onde andamos até Porriño, já que evitamos a eterna reta da zona industrial e fizemos o sendero do rio Louro. Entramos em Porriño já em horário de almoço tardio e encontramos uma cdade quase deserta no centro mas com uns arredores movimentados, industriais, tipicamente espanhóis.
Recuperada alguma energia voltamos a fazer-nos à estrada com destino a Mos. Até à igreja e ao Paço tudo correu bem e com tranquilidade, algumas subidas mas nada muito difícil. Daí para a frente é que tudo que complica. Aé chegar à igreja de Santiaguiño há uma série de subidas bem a pique que me deixaram de rastos e sem consições para o pior que se avizinhava: algumas descidas vertiginosas até Redondela. Foi duríssimo. E posso dizer-vos que acabei a fazer algumas de costas, como quem desce as escadas da piscina.
Eram oito da noite quando Redondela nos recebeu, mesmo a tempo de um bocadillo de chipirones, um banho e o merecido descanso.
Etapa Redondela-Pontevedra
Acordei em Redondela com ânimo redobrado. Depois do cansaço do dia anterior, perceber que uma noite de sono faz verdadeiros milagres foi bem bom. Estava pronta para retomar a caminhada. Depois de um desayuno bem à porta do hostel, começamos a jornada em direção à ria e a Arcade. A etapa não é muito simples porque tem uma série de desníveis, há que subir e descer muitas vezes, mas nada comparado com o dia anterior. Entrei em Arcade entusiasmada com a primeira paragem para o refill que fizemos numa das zonas mais bonitas do percurso: junto à Ponte de Sampayo, que permite atravessar a ría de Vigo. A empanada estava ótima, as cañas também, e o local foi perfeito para uma pausa, até por depois começa a segunda subida da etapa.
A etapa decorreu tranquila até Pontevedra e entramos nos arredores da cidade debaixo da primeira chuvada, que foi curta e refrescou mais do que o que molhou, mas os últimos quilómetros pareceram imensos. Entrei em Pontevedra faminta e paramos logo na praça central para almoçar e finalmente descansar as pernas sem nem ter passado pelo alojamento.
Pontevedra é uma cidade que vale a pena explorar e desfrutar, infelizmente para explorar as condições (físicas) não eram muitas, mas depois de uma sesta reparadora foi possível sair e aproveitar um pouco. Para finalmente beber um merecido copo de vinho, para provar umas ostras selvagens tão típicas da região. A chuva deu tréguas e o fim de dia foi de terrazas. Sem dúvida, a melhor parte do caminho.
Etapa Pontevedra-Caldas de Reis
Esta etapa prometia não ser complicada, apenas 19km sem grandes desníveis. E efetivamente não é um troço difícil. Os primeiros quilómetros tornaram-se mais difíceis que o previsto por causa da fome. À hora a que saímos não havia nenhum café aberto em Pontevedra, e tivemos de andar muitos quilómetros, até que o Don Pulpo nos apareceu pela frente e conseguimos atacar uns bocadillos de jamón. Claro que não estava a desfalecer, havia snacks em várias mochilas, mas faltava aquele confortozinho no estômago para começar o dia.
O objetivo seguinte da jornada era atingir as Cascatas da Barosa, que tinham sido recomendadas veemente por vários amigos. Foi uma ótima paragem para refrescar pés e pernas e ganhar fôlego para a última parte da etapa até Caldas de Reis.
Aqui a tarde não podia ter corrido melhor, com alojamento no Balneário Termal Acuña, houve oportunidade para uma sessão de jatos de água quente na piscina interior, tratamento relaxante para pés de caminhante, crioterapia nas pernas e tratamento de calor nas costas, ombros e cervical, a mochila já começava a fazer estragos e soube-me pela vida esta oportunidade. Ajudou a ganhar forças e disposição para a última parte do Caminho de Santiago.
A água termal (e o costeletão do jantar) contribuíram para uma noite muito bem dormida.
Etapa Caldas de Reis-Padrón
Estava previsto que esta fosse a mais curta etapa do caminho, enganei-me a ler o mapa e contei os quilómetros do percurso acessível. Os quilómetros passaram de 16 para 19 e foi uma barreira psicológica difícil de transpôr.
O dia começou com um pequeno-almoço de hotel, o único da viagem, e um pouco mais tarde do que o habitual iniciamos o percurso. Apesar da etapa ser das mais curtas, ou talvez por isso, facilitamos muito neste dia e não fizemos as paragens convenientes, à conta de que é já ali, só faltam x quilómetros, fomos andando, andando e os últimos quilómetros pareceram eternos.
Olhando para trás vejo que não nos sentamos nenhuma vez ao longo do caminho para reforçar o pequeno almoço, apenas umas paragens curtas para beber água. Não foi uma ideia feliz.
Chegamos a Padrón bem na hora de almoço e quase direto para um prato de pimentos, há tradições que têm de se manter.
Esta foi a primeira tarde da viagem em que saí verdadeiramente para passear e conhecer, foi uma das frustrações da caminhada, não me sentir muito capaz de o fazer na maior parte das vezes. Consegui neste dia ter forças para conhecer um pouco melhor Padrón, visitar a Igreja do Apóstolo Santiago erigida sobre “El Pedrón” – a pedra onde o barco que supostamente trazia os restos mortais de Santiago se amarrou -, explorar um pouco do centro histórico, subir até ao Convento del Carmen, e ainda relaxar um pouco numa esplanada com um livro na mão.
Foi um bom dia, gostei de conhecer Padrón, que imaginava muito mais industrializado (como a vizinha Pontecesures) e que me surpreendeu pelos seus recantos cuidados. Terminou com uma paella na frente que estava divina. Difícil pedir muito mais.
Etapa Padron-Santiago
A última etapa de qualquer peregrino que parte de padrón para Santiago começa no Don Pepe, com um pequeno-almoço reforçado e um abraço de boa sorte. É já uma instituição na cidade e palavra passa palavra ninguém deixa de passar por lá, visitar o espaço pitoresco, carregado de camisolas, bandeiras e cachecóis vindos das mais variadas partes do mundo e despedir-se de Don Pepe antes de seguir caminho. Não fomos excepção.
Escaldadas do erro do dia anterior, nesta etapa que prometia 25 quilómetros finais com algumas subidas, cumprimos as paragens à risca e foi sempre com a moral em alta que Santiago começou a surgir ao longe.
Pela primeira vez em 120 quilómetros de caminho, a chegada ao centro de Santiago faz-se sem setas amarelas, que ficaram perdidas, de repente parece que não sabes para onde ir. Mas a torre da catedral já se começa a ver ao longe e intuimos facilmente a direção.
Finalmente a Praça do Obradoiro e a fotografia da praxe. Aquela sensação de missão cumprida e de… Não tenho de dar nem mais um passo! Acho que não foi propriamente emoção, foi alívio na chegada. A experiência foi incrível mas bastante dura e justifica a celebração.
Depois de levantar a Compostela, almoçar nas calmas, visitar a Catedral e o Túmulo do Apóstolo, comprar uns souvenirs para levar para casa, abrimos uma garrafa de espumante em jeito de festa. Merecemos a comemoração!
(+) O meu Caminho de Santiago | Dicas Práticas
(+) O meu Caminho de Santiago | Etapa Zero
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