Tive recentemente a oportunidade de fazer uma visita à fábrica de Laticínios Marinhas, em Esposende. Como amante de manteiga e queijo, as expectativas estavam altas, mas foram todas ultrapassadas rapidamente. Para começar queria deixar aqui um agradecimento quanto à forma extremamente simpática com que fomos recebidos – certamente ganharam não só novos clientes mas “embaixadores” e amigos da Marinhas.
Começamos esta visita pela entrada do leite que abastece grandes cubas que vão garantir a produção semanal. Tal como nos primeiros tempos de funcionamento da empresa, ainda hoje o abastecimento é feito a 100% por cooperativas locais, o que garante a origem do leite na região. Essa proximidade não só assegura qualidade e frescura, como também imprime ao queijo um sabor único, marcado pela terra e pelas estações. Apesar das vacas se alimentarem de forma diferente ao longo do ano, a continuidade dos produtores locais faz com que a identidade do sabor se mantenha reconhecível geração após geração.
A Marinhas nasceu para a produção de queijo magro, e é daqui que todo o leite segue para o processo de desnatação, onde o leite cru é separado da sua gordura por força centrífuga. A desnatadeira gira a alta velocidade, lançando os componentes mais pesados contra as paredes do equipamento, enquanto a gordura, mais leve, é recolhida no centro. O resultado? Um leite com teor de gordura reduzido, pronto para se transformar em queijo magro — algo que a Marinhas já fazia muito antes de se tornar moda. Ao contrário de outras marcas, não se tratou de adaptar uma receita tradicional para uma versão magra; desde o primeiro dia, a Marinhas desenvolveu uma receita própria, pensada e otimizada para valorizar o sabor e a textura num queijo naturalmente magro.


Manuel, funcionário da Marinhas há 44 anos, é o primeiro rosto com quem nos deparamos na visita à área produtiva. Recebeu-nos com disponibilidade e orgulho, enquanto acompanhava cuidadosamente o processo de coagulação do leite desnatado em grandes tanques, lado a lado com uma jovem engenheira que hoje dá continuidade a esse saber. Mas a alma da fábrica não está apenas nele: a grande maioria da equipa é composta por mulheres que, com mãos experientes e precisas, preparam os moldes, colocam os coalhos e asseguram a prensagem dos queijos. Mais do que rostos familiares, são guardiãs de um conhecimento transmitido de geração em geração. Muitos dos funcionários cresceram ali, aprenderam com os mais velhos e hoje lutam para manter viva a essência da Marinhas. Num tempo em que é cada vez mais difícil encontrar novas gerações dispostas a abraçar esta cultura, o que aqui se preserva ganha ainda mais valor. Tudo é feito com amor — desde o cuidado com o leite até à viragem dos queijos nas prateleiras da câmara frigorífica.





Seguimos para a fase seguinte do processo onde acompanhamos a moldagem do queijo, feita manualmente, e os primeiros passos de seca e cura. Daqui entramos nas câmaras de cura, protegidas por grossas paredes de pedra do edifício original, onde se mantêm o ambiente ideal para a maturação dos queijos. A temperatura, a humidade e a ventilação são controladas com precisão, permitindo que cada peça desenvolva textura, aroma e personalidade ao longo do tempo.


Mas o mais surpreendente durante toda a visita foi perceber que a manteiga, produto pelo qual muitos conhecem a Marinhas, nasceu como subproduto. A gordura retirada no processo de desnatação foi aproveitada com engenho e respeito pela matéria-prima. A manteiga nunca foi o objetivo principal, mas sim uma consequência natural de um processo que privilegia o sabor e a tradição. Ainda assim tornou-se um dos produtos mais procurados da Marinhas.



A visita culminou com a prova dos oito produtos que compõem o portfólio da Marinhas — uma verdadeira celebração do sabor. Provamos todos e adoramos cada um deles.
Cada queijo surpreendeu pela intensidade e equilíbrio, mesmo com a reduzida quantidade de gordura. Essa consistência não é acaso: resulta do facto de o queijo Marinhas ter nascido magro, pensado desde o início para valorizar o sabor e a textura nessa condição. A leveza que daí resulta faz com que cada dentada pese menos na consciência, mas aumenta o risco de repetir sem dar por isso — o verdadeiro pecado está em não resistir a mais um pedaço.
Foi também fascinante perceber como o tamanho e o formato influenciam a cura e, consequentemente, a textura e o sabor. O queijo Marinhas, tanto na versão normal como mini, revela nuances distintas, enquanto os queijos tipo flamengo — Cávado e Ofir — mostram como a tradição pode adaptar-se a diferentes perfis de consumo sem perder autenticidade.
Dois queijos destacaram-se pela diferença: o amanteigado, de textura rica e envolvente, e o de cabra, com um carácter mais intenso e marcante — ambos merecem uma prova atenta. Por fim, os dois subprodutos que nos conquistaram: a manteiga, claro, com o seu sabor puro e delicado, e o queijo fundido, feito a partir dos restos de queijo, que transforma o aproveitamento em arte. Mais surpreendente ainda é a sua apresentação em bisnaga, prática e inovadora, que torna a experiência de consumo tão única quanto o próprio sabor. Uma prova que não só confirmou a excelência da Marinhas, como nos fez compreender que ali, nada se perde — tudo se transforma com saber e paixão.

Ao sair, levávamos mais do que notas e fotografias. Trouxemos a certeza de que há lugares onde o tempo não corre, mas amadurece. E que o sabor, mesmo magro, pode ser pleno quando resulta de uma tradição construída com dedicação e saber fazer. Será certamente para voltar.
Sabes que podes comprar os produtos da Laticínios Marinhas na fábrica?
A fábrica de Laticínios Marinhas fica a poucos quilómetros do centro de Esposende, 50 quilómetros a norte do Porto, facilmente acessível pela A28. Há um pequeno local de venda ao público que podem visitar de segunda a sexta entre as 09H00 e as 12H30 e das 14H00 às 18H00.
Av. 19 de Agosto, nº4399
4740-575 Esposende
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