“O problema não és tu, sou eu!”

“Senhor primeiro-ministro, longe de mim duvidar das suas capacidades para despedir. Aliás basta ver o que o governo de V. Exa está a preparar aos professores para perceber que em matérias de mandar malta para o desemprego ninguém tem nada a ensinar-lhe. Mas como tarda a fazê-lo em relação ao ministro Relvas, mesmo depois do “senhor reitor” se ter demitido, perdão, ter sido promovido, atrevo-me a deixar-lhe umas dicas.
Entendo que a coisa seja complicada. Afinal de contas não deve ser fácil despedir um amigo, alguém que ajudou V. Exa a chegar ao poder. Por isso sugiro uma abordagem simples e direta, via telemóvel (pode ser por SMS) e atire-lhe com um: “Miguel, temos de falar”. Esta frase é a bomba dos relacionamentos. Das mais poderosas que existe. Entre casais ou profissionalmente, o impacto é brutal. É um “já me f… lixei” imediato.
Vai tentar adiar a coisa, reacção natural de quem percebe que está à beira de ser despachado: “Ah e tal Pedro estou a estudar para um frequência” ou “tenho de ir à reprografia que fecha às 18”. Aqui V. Exa vai ter de ser inflexível: “Miguel, fazes as frequências com uma perna às costas. Até fazes com as duas às costas enquanto tocas pífaro se for preciso. Quero-te ver ainda hoje. Não falhes.”
“Muito bem, onde?” (vai tentar que seja num sitio público para que seja mais complicado a V. Exa fazer o serviço ) Pode ser no Hard Rock? Apetece-me um hambúrguer”. Não desarme. “Não Miguel. Quero-te no palácio às 19:00 “
Aposto que depois de um “temos de falar” o ministro Relvas apresentar-se-á no Palácio com a cartinha de demissão na mão. Ninguém gosta de ser empurrado do governo. É como ser substituído aos 20 minutos por não estar a jogar a ponta de um corno. “Fui eu que acabei” fica sempre melhor do que “pôs-me os patins”.
Há a hipótese de isto não acontecer. Plano B: aconselho um papel em branco e uma caneta imponente (mostrar quem manda, tipo Godfather de Massamá). Adiante… coloca a caneta sobre o papel numa secretária. Assim que o ministro estiver acomodado na cadeira empurra a folha e caneta na sua direção.
É possível que o ministro ainda se saia com um: “o que é isto, Pedro? Não posso acreditar”. Responda apenas: “Miguel, não és tu sou eu (outra frase mítica). “Vamos tornar isto o menos doloroso possível, sabes a estima e gratidão que tenho por ti mas tens que resolver esta situação.” Depois, olhe-o nos olhos com compaixão, ponha-lhe a mão no ombro e diga-lhe: felicidades.”



Tiago Mesquita, Expresso

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7 Comments

  1. asminhasquixotadas

    July 14, 2012 at 9:57 pm

    E depois também podes acrescentar: «Miguel, não sejas piegas!». Muito bom…

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