No final de 2023, estive durante duas semanas na Costa do Marfim. Houve oportunidade para explorar outras zonas do país, que acabou de receber a CAN, mas Abidjan foi a base para estes dias. Não poderia ter tido melhor anfitriã, a Ruthia do blog Berço do Mundo, e deixo-vos aqui com a imagem de Abidjan, a moderna capital da Costa do Marfim. (disclaimer: Abidjan é a capital de facto da Costa do Marfim, já que “funciona” como tal, a capital oficial do país é Yamoussoukro)

Abidjan é uma metrópole gigante e caótica. Situada na zona litoral do país e recortada por lagoas e braços de mar é composta por uma conjunto de bairros geograficamente bem distintos que facilmente poderiam ser cidades dentro da própria cidade. O trânsito na hora de ponta é imprevisível mas garantidamente confuso e desorganizado e é algo a ter em conta quando planearem os vossos dias por lá.
Em duas semanas eu tive oportunidade de visitar com calma a cidade, voltar a vários sítios, experimentar alguns dos melhores restaurantes da cidade e conhecer os melhores locais para ir às compras.
Abidjan é uma cidade de contrastes onde podem encontrar de tudo mas onde a maioria da população não tem acesso a quase nada.
Aqui ficam as minhas sugestões do que visitar na moderna capital da Costa do Marfim.

Plateau

A zona do Plateau é o coração da cidade, para além dos locais mais turísticos que visitei da capital, é aqui que vão encontrar os prédios que marcam a silhueta da cidade e as sedes das principais organizações internacionais e empresas multinacionais com presença no país.
Não devem perder a visita à nova Catedral de São Paulo, com os seus coloridos vitrais, ao Museu das Civilizações, onde podem conhecer um pouco melhor a história a e etnografia da Costa do Marfim, e à Mesquita do Plateau, onde a entrada a não-muçulmanos não está autorizada mas que merece uma passagem rápida na zona para conhecer pelo menos o seu exterior. Por último, não deixem de parar para conhecer o habitat de uma das espécies mais famosa na cidade, os morcegos que habitam os Boulevards no coração do Plateau (Blv. Angoulvant & Blv. Clozel), e que ao fim da tarde se deslocam até às florestas nos arredores da cidade para se alimentar, criando um espetáculo único nos céus da cidade.

Cocody

Fiquei alojada nesta zona da cidade, não sendo uma região com atrações turísticas, é um bom local para “viver” em Abidjan. Alguns dos melhores bairros ficam deste lado da Lagoa de Abidjan, com boas opções para fazer compras, espaços interessantes para conhecer, cafés e restaurantes muito frequentados pela comunidade de expatriados. A nova Ponte de Cocody, liga o bairro à zona do Plateau que também está bem localizado em termos de acessos às vias rápidas que dão ligação às saídas da cidade para norte e oeste (se não houver trânsito!)
Na região de Plateau II no centro de Cocody podem encontrar algumas boulangeries simpáticas de influência francesa, e lojas das melhores marcas locais de pagnes, como a Woodin e a Vlisco ou mercados de rua para frutas e legumes frescos. A região é dominada também pelos hectares de zona verde que pertencem ao campus da Universidade de Abidjan – no seu interior para além dos edifícios das diferentes faculdades e residências para estudantes, há ainda campos desportivos e zonas tranquilas onde é possível caminhar, correr ou andar de bicicleta fugindo ao trânsito e às multidões do centro da cidade.
Dois locais de interesse junto à lagoa, mas de registo completamente diferente: o Ivory Trade Center, pequeno centro comercial com algumas opções de restaurantes, cafés e lojas gourmet, e o Bushman Café, um projeto alternativo que alia as artes e a tradição local, com uma simpática cafeteria, salas de exposições, aulas de ioga e várias outras atividades para os seus frequentadores (este último já fica no bairro de Riviera).

Marcory

O bairro de Marcory fica na ilha em frente ao Plateau e é outro dos locais com boas opções para “viver” na capital da Costa do Marfim. Com várias opções de restaurantes, centros comerciais e hotelaria, podem considerar a zona como opção de alojamento se pernoitarem na cidade. Nas recomendações do que fazer no local não podem falhar as referências a dois dos restaurantes que experimentei – o Chez Richard (provavelmente o melhor restaurante do país) e o Le Mechoui (restaurante libanês que merece uma visita). Fica também neste bairro o CAVA (Center Artisanal de la Ville d’Abidjan), uma das melhores opções para fazer algumas compras de artesanato local – um mercado ao ar livre com imensas opções e artesanato original de diferentes regiões do país. Se quiserem conhecer um centro comercial local, o Cap Sud oferece todas as opções. Não posso deixar de referir a minha loja favorita na cidade – a Nota Bene, focada no artesanato e produtos locais mas com uma qualidade e design diferenciado, vão ter vontade de trazer tudo.

Treichville

Este não é definitivamente um bairro turístico. É uma das zonas mais pobres no centro de Abidjan mas uma visita importante para perceber os contrastes e a vida real na cidade. Apanhamos um táxi até ao Mercado de Treichville, onde os frescos e os mais variados produtos locais habitam lado a lado numa alegre e colorida confusão. A mistura de cheiros foi o primeiro impacto ao entrar no edifício, e o amaranhado de corredores onde nos perdemos de seguida fez-nos perceber que estavamos num pequeno labirinto. Mas um labirinto onde regateamos os melhores souvenirs para trazer para casa, os pagnes coloridos mais baratos da viagem, a bijuteria artesanal que tinha ficado baixo de olho noutras paragens, os leques tradicionais da Costa do Marfim. Valeu a pena a manhã que passamos por lá. No final ainda circulamos um pouco nas imediações do mercado, onde se vende de tudo um pouco e até linho comprei (como se não houvesse em Portugal) para fazer o forro das almofadas imaginadas com os pagnes que já tinha no saco. Voltamos a apanhar um táxi para deixar o bairro de Treichville, visita que não pode faltar na vossa viagem a Abidjan também.

Visita a um projecto de alfabetização para adultos com a AIFCI

Quando perguntei à Ruthia se precisava de alguma coisa que eu lhe pudesse levar de Portugal a resposta dela foi: “Eu não, mas se conseguires arranjar livros em francês sei quem ia gostar do presente”. E eu assim fiz. Com a ajuda de alguns amigos reuni uma série de livros e cadernos para oferecer à nova biblioteca de uma escola em Abidjan que a AIFCI apoia por causa do seu projeto de alfabetização para adultos. Num dos dias que passamos na cidade, fomos conhecer alguns professores, alunos e voluntários, assistir às aulas que estavam a decorrer e finalmente entregar os livros que tinham voado comigo desde Portugal e que agora estão numa das estantes da nova biblioteca. Foi uma manhã bem passada, entre aulas de ciências, francês e matemática, salas de aula exteriores e quadros pretos com giz.

Como é viver em Abidjan? Por Ruthia Portelinha, O Berço do Mundo

“A Costa do Marfim não estava sequer no meu radar de viajante, quando me mudei para a terra do cacau, no verão de 2021. Depois de muita pesquisa, cheguei carregada de curiosidade, adrenalina e algum receio. Nos primeiros tempos, os embates sucederam-se, cada dia uma nova aventura: o calor exagerado, o barulho, os cheiros e cores fortes, a mistura de francês macarrónico com dialetos locais.
Até hoje Abidjan continua intensa e feita de contradições: tem arranha-céus e painéis publicitários luminosos, mas também bairros clandestinos sem saneamento, restaurantes caríssimos e maquis informais onde um prato de attiéké se vende ao preço da chuva, herdou a tradição da pastelaria francesa mas também influências culinárias árabes, festeja o Natal e o Tabaski islâmico, algumas mulheres tapam modestamente o cabelo, enquanto outras usam roupas que acentuam todas as curvas.
A maior cidade da Costa do Marfim insiste na alcunha “Manhattan africana”, mas continua com cortes de energia frequentes, podemos ficar um dia inteiro sem internet, os serviços são sempre lentos e, não raras vezes, exigem pequenos subornos.
Quão temerário é conduzir no chape chape da estrada, onde os  vagares africanos se desintegram entre acrobacias e buzinadelas, onde três faixas se transformam em cinco, onde há sempre condutores em contramão, crianças a pedirem nos semáforos, vendedores ambulantes que fintam motociclistas aparentemente imortais.
E contudo, está a ser uma experiência riquíssima, que trabalha a nossa resiliência e testa a paciência, mas nos permite já sonhar em diferentes línguas, e acentua as (tantas) coisas boas do nosso lindo Portugal.“

Outras cidades africanas a visitar:

(+) A não perder na Cidade do Cabo, África do Sul

(+) Windhoek, a capital da Namíbia

(+) Conhecer a Cidade da Praia, Cabo Verde

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